Pular para o conteúdo principal

Quatro estações, de Stephen King


As quatro longas histórias reunidas nesse livro são quatro contos ‘comuns’, mas escritos pelo mestre do terror Stephen King. Não, elas não são de terror – embora haja esse elemento em algumas delas. Rotulado como escritor de terror, essas histórias são para provar que ele pode escrever histórias comuns, sem recorrer ao sobrenatural. Quatro estações é divido em quatro contos, um para cada estação. Em Primavera Eterna: Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank, King escreve sobre uma fuga inesperada, para não dizer impossível, de um presídio americano no estado do Maine. Descrevendo sobre a vida dura e difícil daqueles homens que estão sem esperanças e sem liberdade, o autor consegue fazer o leitor ter empatia pelo Red, o narrador dessa história, e claro, torcer para Andy Dufresne, que foi acusado de ter matado a esposa e o amante. Andy diz que é inocente e mantém a esperança de que ganhará sua liberdade novamente, pois ainda acredita na Justiça. Os dois acabam desenvolvendo uma amizade que transcenderá os muros cinzentos de Shawshank. O segundo conto, Verão da Corrupção: Aluno Inteligente é sobre um garoto que acaba se relacionando com um velho nazista. O que começa como uma curiosidade passa a ser uma espécie de obsessão. O velho não se arrepende do seu passado, e o garoto se corrompe ao passar tanto tempo ao lado do nazista, mesmo sem perceber. Uma espécie de amizade não consentida é mantida pelos dois, que têm naturezas quase idênticas, inclinadas para o mal. Outono da Inocência: O Corpo é o melhor conto do livro. A história é sobre quatro meninos que vivem em Castle Rock, que saem em busca do corpo de um garoto que morreu e está desaparecido. Gordie, Chris, Teddy e Vern são personagens eternizados nas telas do cinema, e ao ler sobre a aventura de suas vidas, o leitor sente aquela nostalgia ao se lembrar de sua própria infância. O último conto, Inverno no Clube: O Método Respiratório é o mais assustador de todos, mas não o melhor. O clube misterioso é um local onde velhos se reúnem para ler livros, tomar uma bebida, jogar conversa fora, e principalmente, contar histórias em frente a uma lareira, em poltronas confortáveis. Na véspera do Natal, um ‘membro’ do clube conta a história do método respiratório, que tem um corpo sem a cabeça ainda respirando por minutos. Sem falar no clube, que não sabemos ao certo se existe ou não.
Dos quatro contos, três foram adaptados para o cinema. A escrita do King é fácil, flui bem e conquista o leitor. Abordando temas pessoais, tal como a esperança em um mundo onde todos já não a têm, e a amizade, onde se é praticamente impossível ter algo próximo disso, Stephen King me surpreendeu e até me fez ficar um pouco emocionado. Refiro-me ao final do primeiro conto, você terá que ler para descobri por si mesmo. Amizade, lealdade, inocência e amadurecimento são temas abordados no conto O Corpo, o melhor do livro. Mesmo adultos, nos identificamos com um daqueles quatro garotos, e com muita tristeza concordamos com Gordie que nunca mais tivemos amigos como os que tínhamos aos 12 anos de idade. E o afastamento daqueles que um dia foram tão próximos é uma realidade da qual não podemos fugir. O perigo de sermos tentados, por curiosidade, a saber de coisas terríveis e acabarmos sendo contaminados pelo mal, lembra-nos que não somos perfeitos e que o mal está dentro de cada um de nós, mas o que decidimos fazer com isso é o que definirá o nosso caráter.
Nunca mais tivemos amigos como os que
tínhamos aos 11 anos de idade. Mas quem tem?

Quatro Estações não é o livro mais conhecido do autor,  pois se trata de um livro de histórias ordinárias, mas que se tornam extraordinárias através do Stephen King. Mas assim como a frase gravada no console da lareira no último conto, o importante é a história, e não o narrador.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Leia o conto "O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Não espero nem peço que acreditem nesta narrativa ao mesmo tempo estranha e despretensiosa que estou a ponto de escrever. Seria realmente doido se esperasse, neste caso em que até mesmo meus sentidos rejeitaram a própria evidência. Todavia, não sou louco e certamente não sonhei o que vou narrar. Mas amanhã morrerei e quero hoje aliviar minha alma. Meu propósito imediato é o de colocar diante do mundo, simplesmente, sucintamente e sem comentários, uma série de eventos nada mais do que domésticos. Através de suas consequências, esses acontecimentos me terrificaram, torturaram e destruíram. Entretanto, não tentarei explicá- los nem justificá-los. Para mim significaram apenas Horror, para muitos parecerão menos terríveis do que góticos ou grotescos. Mais tarde, talvez, algum intelecto surgirá para reduzir minhas fantasmagorias a lugares-comuns – alguma inteligência mais calma, mais lógica, muito menos excitável que a minha; e esta perceberá, nas circunstâncias que descrevo com espanto

O Cavalo e seu Menino, de C. S. Lewis

O terceiro livro de As Crônicas de Nárnia em ordem cronológica, O Cavalo e seu Menino, narra a história de duas crianças fugindo em dois cavalos falantes. Shasta vive em uma aldeia de pescadores e vive como se fosse um empregado do seu pai ‘adotivo’, Arriche. Quando um tarcãa chega à aldeia e pede para se hospedar na casa de Arriche, este aceita sem hesitar. Com um hóspede nobre, o pescador coloca Shasta para dormir no estábulo junto com o burro de carga, tendo como comida apenas um naco de pão. Arriche não era um pai afetivo, acho que ele nem se considerava pai do menino. Via mesmo ali uma oportunidade de ganhar mais dinheiro, e quando o tarcãa oferece uma quantia por Shasta, ele ver que pode arrancar um bom dinheiro com a venda do menino e assim começam a barganhar um preço pelo garoto. Ao ouvir que o seu ‘pai’ iria lhe vender, o menino decide fugir e ir para o Norte — era o seu grande sonho conhecer o Norte. Ao se dirigir ao cavalo, e sem esperar nada, desejar que o animal fa

Três ratos cegos e outros contos, Resenha do Livro

Três ratos cegos Três ratos cegos Veja como eles correm Veja como eles correm Correm atrás da mulher do sitiante Que seus rabinhos cortou com um trinchante Quem terá tido visão tão chocante Como três ratos cegos . Três ratos cegos e outros contos é a mais importante compilação de contos da literatura policial. Agatha Christie escreveu a história que  deu origem a peça teatral mais encenada de todos os tempos 1 . Nesse livro, que traz nove contos maravilhosos, Agatha escreve com maestria as histórias mais incríveis para todos os amantes da literatura policial. O primeiro conto, Três ratos cegos, traz um intrigante caso de assassinato em série. Giles e   Molly se casaram recentemente e se mudaram para o casarão da falecida tia de Molly. Com uma ideia de transformar a enorme casa em hospedaria, ela convence Giles e os dois agora são donos de uma Hospedaria.